quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

"Mais uma xícara"

Ela acreditava que até uma cadeira poderia ser descrita com mais emoção. K não conseguia aceitar o rumo que sua vida tinha tomado. Um dia após o outro, cheio de nadas e não há melhor maneira de escrever sobre isso.
Parece fácil olhar para essas páginas e depositar aqui toda a angústia que isso lhe causava.
Todos os porquês lhe escapavam das mãos, mas K sabia que era sua responsabilidade fazer algo por si mesma. Enquanto olhava para o dia claro através de persianas meio fechadas, ela decidiu que tomaria um banho, se arrumaria e finalmente ""seria a mudança que queria ver em sua vida"". Ela pensou em todos esses clichês e citações de filósofos e líderes espirituais enquanto prendia o cabelo preto em um coque no topo da cabeça. Sabia que depois daquela porta encontraria toda a sua ansiedade, como uma criança na sala de espera do dentista.
A coragem que a preenchia se esvaia conforme as horas passavam arrastadas e decisivas. K chegara ao escritório no horário de sempre, colocou sua bolsa na cadeira, como sempre, tirou seu cardigã e o pendurou atrás da porta mais uma vez. Seu chefe estava a poucos metros de distância e ela sabia que poderia falar com ele se quisesse. Em vez disso desceu as escadas e entrou no banheiro escuro. Dez minutos e muitas suspeitas de intoxicação alimentar depois, K se viu no corredor novamente, a porta cinza a encarava, uma atmosfera ameaçadora.

Mais cedo ou mais tarde, ela sabia, deveria fazê-lo, mas como sempre, escolheu mais tarde.